quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Depois de quatro anos de João Henrique Carneiro

Por Jorge Almeida

João Henrique venceu as eleições de 2004, propondo a mudança, numa frente política anti-carlista, e se reelegeu em 2008 com o apoio do carlismo. No início do governo, lançou o slogan “Prefeitura de Participação Popular”, mas entregou a administração ao grande empresariado.
Impôs um PDDU aprovado a toque de caixa, varando a madrugada, na Câmara Municipal – para beneficiar grandes imobiliárias e empreiteiras mas prejudicar o meio ambiente. Promoveu concessões ilegais no Aeroclube, provocando seu embargo. Discriminou o Povo de Santo e seus lugares sagrados. Sempre tentando golpes legislativos em final de ano, ameaçou um aumento do IPTU. Mas, como atingiria grandes propriedades, bastou o empresariado bater o pé que logo recuou. Mas, aumentou o transporte popular, 20 dias antes do prazo, fazendo crescer o lucro das empresas em cerca de quatro milhões de reais. Assistiu um assassinato, dentro da Secretaria de Saúde da prefeitura, de um funcionário que sabia demais. Fato até hoje sem solução, apesar da polícia ser do governo do PT, um partido aliado durante três anos e meio.
Conseguiu ser reeleito, menos por ter feito uma boa administração, do que por falta de uma alternativa forte que fizesse a diferença. Herdeiros do carlismo, os candidatos do DEM e PSDB, não representavam mudança. João Henrique teve a oposição de última hora do PT local, mas o apoio de Lula, em palavras e recursos federais para melhorar sua imagem e se reeleger. Somente o PSOL de Hilton Coelho e sua Frente de Esquerda exerceram, de fato, uma oposição programática e alternativa.
Brigou com o governador Jaques Wagner, que brigou com o prefeito. “Buxixos” de bastidores e declarações na imprensa. Jogadas dos irmãos Vieira Lima e sinceridades da primeira dama do estado. Há uma disputa partidária, mas não de propostas alternativas.
No final do mandato e na formação do novo governo, introduziu um elogio à escolha de “técnicos” e ao “enxugamento da máquina”. Mas não existem técnicos sem política. E toda “economia” será pequena, se a máquina administrativa continuar sob a hegemonia do grande capital.
Enfim, tudo pode acontecer daqui pra frente. Inclusive continuar do jeito que está. O PMDB aliado ao seu “inimigo” DEM na prefeitura. O PT aliado ao seu “inimigo” PSDB no governo estadual. E PT e PMDB aliados entre si nos governos estadual e federal. O pragmatismo transformou a relação dos grandes partidos baianos num verdadeiro sistema de vasos comunicantes. E os grandes empresários continuam sendo privilegiados nas políticas e recursos municipais e estaduais.
A esperança está num renascer dos movimentos sociais, agindo de modo independente dos governos e partidos, para a reconstrução de uma ação política democrática e popular e uma verdadeira mudança em Salvador.
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Jorge Almeida é professor do Departamento de Ciência Política da UFBA
Publicado em A Tarde, 1º de janeiro de 2008, Caderno B, pag. 6
Veja abaixo a posição do PSOL sobre o 2º turno das eleições em Salvador

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