Hamilton PSOL

Hamilton diz que Afrodescendentes não serão mais subalternos na política: “nós queremos ser protagonistas”
Fotos: Tiago Melo/ BN

"Creio que estaremos no segundo turno, na linha de frente"

Por Gusmão Neto

Bahia Notícias: Conta aos nossos leitores quem é Hamilton Assis, que quer ser governador da Bahia.
Hamilton Assis: Eu sou um trabalhador da rede municipal de ensino de Salvador. Trabalho em uma das Coordenadorias Regionais da Secretaria de Educação, onde faço parte da equipe pedagógica. A minha história é a mesma da maioria dos jovens negros da nossa cidade, filhos de pais do interior que tentaram buscar uma vida melhor na capital. Passei a me envolver na política porque sempre me incomodei com essa brutal concentração de renda e poder que há nesse país e quis buscar as soluções para os problemas de uma forma coletiva. Então com 17 anos entrei de fato na política. Fui líder comunitário de Pau da Lima, onde moro até hoje, depois fui presidente de associação de moradores do bairro até a década de 80, em seguida fiz parte a Executiva da Federação de Bairros de Salvador.
BN: Você fez parte do PT, partido que hoje é combatido ferrenhamente por todo o seu grupo. Como se deu essa participação até a sua saída?
HA: Realmente toda a minha trajetória foi dentro do PT, partido em que fiz parte desde a sua fundação. Fiz parte da Executiva Estadual e fui inclusive assessor do deputado federal Nelson Pelegrino, durante quase 12 anos. Depois vem surgindo algumas divergências e começamos a fazer algumas críticas, as quais vieram se acentuando e tudo se torna mais evidente quando o Lula se torna presidente. Então algumas ligações nos leva a crer que o PT tomou outro rumo e agora ele se esgota enquanto partido, já que a sua ideologia deixou de ser a mesma, aquela que sempre lutamos pela redemocratização. Hoje o Partido dos Trabalhadores nada mais é do que um grupo político da ordem, submisso e metido em várias situações constrangedoras, como esses diversos escândalos que apareceram aí.
BN: Como surgiu a ideia de Hamilton disputar o governo?
HA: Olha nós temos uma população, em sua grande maioria, afrodescendente, que na política sempre teve uma participação subalterna. Então passamos a indagar que um povo que é da tradição, que teve participação fundamental para a construção da nação, faz parte de uma sub-representação. Nós queremos ser protagonistas. Aí que surge o PSOL. Buscamos referências e optamos pela linha de que a nossa trajetória se baseia na história de luta de nosso povo.

"Todos que estão aí pensam da mesma forma. Eles querem a manutenção da ordem vigente. A situação quer defender a sua posição no poder e a oposição quer tomá-la para si"
BN: O que o PSOL espera de resultados concretos nestas eleições?
HA: Apesar de sermos de um partido recém criado, nós chegamos a conclusão de que o PSOL faz parte da luta histórica pelos direitos da classe trabalhadora. Nós queremos firmar o PSOL como um partido socialista, que se coloca como alternativa para a construção de um projeto diferente deste que está aí nas mãos das elites dominantes. Queremos enraizar o PSOL nessa luta, bater de frente nos debates públicos e apresentar os nossos propósitos. Depois que temos que desconstruir essa ideia de polarização, que existe entre uma oposição liberal e os outros partidos conservadores. Então todos que estão aí pensam da mesma forma. Eles querem a manutenção da ordem vigente. A situação quer defender a sua posição no poder e a oposição quer tomá-la para si. Na verdade tudo é a mesma coisa. Oposição ou não, a essência é a mesma.
BN: Mas sabemos que nem só de ideologia vive um partido. É preciso correr o estado em busca de apoio. Em busca do voto propriamente dito. Como vocês estão trabalhando no sentido de conquistar bases políticas pela Bahia?
HA: Nós estamos vivendo um momento de conferência eleitoral e esse processo tem aflorado pelo interior do estado, onde temos participado sistematicamente. Além disso, nós acreditamos que não vamos governar sozinhos. Nós estamos batalhando para formar um frente de esquerda com o PSTU e PCB. Juntos, somos estratégicos para a apresentação de programas e projetos junto às comunidades.

"Nós queremos firmar o PSOL como um partido socialista, que se coloca como alternativa para a construção de um projeto diferente deste que está aí nas mãos das elites dominantes"
BN: O seu companheiro Hilton Coelho, nas eleições para prefeito de Salvador, obteve uma votação recorde para o movimento esquerdista radical. Será que essa façanha pode se repetir e o PSOL fazer um ou até dois deputados estaduais?
HA: Eu acredito que elegeremos dois deputados. Nas caminhadas que faço com o Hilton pela Região Metropolitana é notável o carinho que a população tem com a gente. Nós vamos lançar o maior número possível de candidatos a deputados estaduais e federais, até porque o PSOL passa por um processo de análise, que é a clausula de barreira. Nós temos que aumentar a nossa votação, para continuarmos em quanto partido nesse cenário.
BN: Qual será a principal estratégia do partido nessa corrida eleitoral?
HA: Nossa estratégia é sempre discutir as desigualdades. Vamos discutir essa ausência de projetos que lance a Bahia dentro do contexto da economia nacional, que deixe de fazer parte do cenário de uma forma secundária. Vamos abordar a concentração de renda desigual que há por aqui. É inadmissível que um estado como o nosso concentre mais de 50% da renda em 14 municípios, enquanto centenas se contente com a sobra. Então vamos fazer uma crítica do modelo de gestão do governador Jaques Wagner (PT), que na verdade é um segmento do seu antecessor (Paulo Souto, DEM).
BN: Então Wagner e Paulo Souto serão os principais alvos das críticas do PSOL?
HA: Sem sombra de dúvidas. Eles são continuidades. Infelizmente, o que Wagner faz é um modelo de administração que tentamos, junto com ele, combater em toda a nossa trajetória, que foi o carlismo.

"Eu diria que o PV não esteve digno do aporte político que o PSOL quis lhe emprestar"
BN: Recentemente o seu partido e o PV romperam a aliança. Será que isso não pode enfraquecer ainda mais a sua sigla?
HA: Eu não diria que nós rompemos com o PV. Eu diria que o PV não esteve digno do aporte político que o PSOL quis lhe emprestar. Eu sempre fui admirador da senadora Marina Silva, por sua trajetória militante, que sempre lutou pela causa social e o direito da maioria, mas recentemente diria que ela jogou tudo por água abaixo, quando se aliou a Lula, mesmo que tenha rompido depois. Ela deu um tiro no próprio pé.
BN: Em um possível segundo turno, o PSOL já avalia uma possibilidade de aliança?
: Se eu admitir uma possibilidade de aliança agora, estaria dizendo que não entramos para uma disputa. Nós temos propostas que de fato podem sensibilizar as pessoas e creio que estaremos no segundo turno, na linha de frente. Se não chegarmos lá, vamos analisar com cuidado, mas o que há nessa disputa são partidos que não nos atraia para um compromisso político, pelo menos por agora.

"Wagner, Souto e Geddel comprovam essa polarização"
BN: Dentre os outros quatro pré-candidatos a governador, qual deles é o pior (Jaques Wagner, Geddel Vieira Lima, Paulo Souto, Luiz Bassuma)?
HA: Risos. Olha é difícil trabalhar com essa lógica de pior candidato. Vamos dizer que todos estes são continuidades. Eles são aquilo que disse que serão alvos do que bateremos, que é o continuísmo. Wagner, Souto e Geddel comprovam essa polarização e até o Bassuma também. Afinal os verdes também fizeram e fazem parte do governo petista que não é nenhum exemplo de boa política.

Fonte: http://www.bahianoticias.com.br/noticias/entrevistas/2010/03/08/136,hamilton-assis.html
******************************************


Carta de Hamilton Assis sobre sua pré-candidatura a governador.

Companheiras e companheiros do PSOL da Bahia,

Há cerca de 30 anos atrás, quando iniciei meu ativismo num grupo de jovens no bairro de Pau da Lima, na periferia de Salvador, não poderia imaginar que um dia poderia ser candidato a governador da Bahia. Queria apenas lutar para que o povo pobre do meu bairro tivesse melhores condições materiais e culturais de vida. Fui elevando minha consciência e assumindo uma militância socialista, da qual nunca mais me afastei. Fui ganhando experiência e maiores responsabilidades. Participando de vários tipos de movimentos sociais e organizações políticas. Além de dedicar esforços na organização do povo negro contra a exclusão social, econômica e política por meio do combate ao racismo e à desigualdade racial imposta pelas elites capitalistas herdeiras das elites escravocratas brasileira e européia.
Experimentando, enfrentando e superando crises políticas de vários tipos. A duras penas, também conseguindo sobreviver materialmente e avançar em conhecimentos culturais e formação profissional. A crise do PT, onde eu tinha assumido funções em sua direção estadual, e seu transformismo num partido da ordem, aumentou minhas responsabilidades. A saída em 2005 para a construção do PSOL e a aceitação do cargo de presidente estadual em 2006 mostrou o grande desafio que temos pela frente, para reconstruir o ideário e a organização política dos/das socialistas brasileiros/as na Bahia.
Agora, muitos/as companheiros/as, antigos e novos na luta, me convocaram para assumir esta tarefa que, se for concretizada, será a mais importante de minha vida política: ser o candidato do PSOL e da frente de esquerda a governador da Bahia.
Assim, assumo esta pré-candidatura de corpo e alma. Motivado politicamente pela necessidade de darmos respostas populares e fazer com que o PSOL e a esquerda socialista ocupem o seu espaço na nossa vida política. E animado ideologicamente pela tradição de luta do povo oprimido da Bahia.

Bahia: 500 anos de opressão e resistência

Na Bahia, a contestação e resistência contra a exploração, a opressão e a dominação vem do início dos tempos coloniais. A trajetória de luta do nosso povo reapresenta e atualiza cotidianamente os mais de 500 anos de enfrentamento das desigualdades sociais, raciais e econômicas e da opressão política, que marcaram os escravos e as escravas de ontem e os trabalhadores e as trabalhadoras de hoje. Resistência que já está ativa em 1555, com o Levante dos Tupinambá em Salvador e a Guerra dos Aimoré no Sul do estado. Resistência que continua até hoje e foi se somando a luta dos negros contra a escravidão e da formação dos quilombos.
No passado, as bandeiras de liberdade, igualdade, soberania nacional e democracia foram eixos fundamentais para a Revolta dos Búzios, ou Conspiração dos Alfaiates, de 1798. Movimento que criticou de forma profunda as elites baianas da época. Suas propostas ficaram vivas nas lutas de nosso povo. Orientaram a Revolução da Sabinada, que instaurou a República da Bahia em 1837. Se expressaram no 2 de Julho, que realizou a independência do Brasil na Bahia. Passou por Canudos, por tantos outros movimentos como a luta contra a ditadura militar. E continuam nos inspirando até hoje, pois nunca foram implementadas de verdade para o povo baiano.
Nossa luta por justiça, liberdade e igualdade, continuou por várias gerações de trabalhadores, militantes e ativistas que enfrentaram as ditaduras, o coronelismo, o imperialismo, o latifúndio, os banqueiros e os monopólios. No chão da fábrica, nos campos, nas escolas, nos bairros populares, com os sem terra e os sem teto, na capital e no interior. Os socialistas e os revolucionários, como Carlos Marighella e Mário Alves (que, neste ano de 2010, completa 40 anos de assassinado), sempre estiveram na luta e na resistência do povo da Bahia e do Brasil. E hoje, nos movimentos sociais e na construção do PSOL, retomamos a construção dos instrumentos de nossa emancipação e da sociedade socialista. A sociedade onde seremos irmãos e irmãs, diferentes e diversos, porém iguais pela mesma condição de classe, como trabalhadores.

Quatro anos a mais de governo para a elite

Os 40 anos de predomínio do Carlismo e seus aliados, seja durante a ditadura militar, seja na democracia liberal, foi um grande exemplo da reprodução autoritária dos interesses dos grandes grupos monopolistas, através de uma modernização conservadora. Que concentrou riqueza, manipulou nossa herança cultural, reprimiu o povo, patrocinou a corrupção e, aos gritos de viva a Bahia, manteve nosso estado subordinado aos interesses do imperialismo e dos grupos econômicos e políticos de fora da Bahia. Nem o 2 de Julho ele respeitou.
Eleito numa expectativa de verdadeiras mudanças, o governo petista de Wagner abandonou suas promessas e se satisfaz em reproduzir a modernização conservadora. Sem promover nenhuma mudança importante, orienta-se pelos interesses do capital estrangeiro, do agronegócio, das empreiteiras e da grande empresa monopolista geral. Na contramão das esperanças geradas e em contradição com os ideais de liberdade e igualdade, o atual governo gerencia o estado em função dos interesses do grande capital, ampliando os mais de 500 anos de saque às riquezas naturais: a água, a flora, a fauna e os solos da Bahia. Em resumo, reza por uma cartilha escrita nos 40 anos de dominação carlista e assume as referências ideológicas seculares dos dominantes.
Hoje, 12 municípios concentram quase metade do PIB do estado, enquanto os demais 405 ficam com a outra metade. A polícia continua classista, racista e sexista. Os Direitos Humanos são regularmente desrespeitados, a violência explode e o governo bota a culpa de tudo no consumo do crack. A educação continua precarizada, as universidades estaduais abandonadas, a saúde vendida através das “parcerias público-privadas”, os servidores com baixos salários e sendo terceirizados, as estradas privatizadas, assim como a Fonte Nova e o Centro de Convenções. E, enquanto se multiplicam os milhões gastos com propaganda enganosa, a Bahia continua campeã do desemprego, analfabetismo, dengue, meningite e leptospirose. E que é palco de um genocídio cotidiano de jovens, negros, pobres, da periferia.
Seus principais investimentos são obras do PAC, uma verdadeira “bomba” social e ambiental que estimula a migração para os já tão desumanizados centros urbanos. Traindo o Bispo Dom Cappio, Wagner e Geddel ajudaram a impor a Transposição do Rio São Francisco, agredindo ainda mais o Velho Chico e expulsando povos indígenas e famílias ribeirinhas. As empresas transnacionais de celulose destroem o extremo-sul. Enquanto isso, em Salvador, com o patrocínio do governo estadual, a Tecnovia recebe incentivos fiscais para atropelar o que resta de Mata Atlântica e os hotéis de luxo avançam destruindo o centro histórico. E, nesse “lixão ambiental” gestado por Wagner, cabe até usina nuclear! Tudo para garantir os interesses de grandes grupos econômicos.
As carvoarias avançam no cerrado. O Além São Francisco entregue ao agronegócio, aos agrotóxicos e à exploração sem fim dos trabalhadores. No Oeste baiano, a monocultura da soja transforma a região em um deserto verde, que aumenta a concentração de riquezas e favorece o agronegócio de exportação que se nutre do trabalho precário.
O trabalho escravo que persiste. A Reforma Agrária que não é feita. Os quilombos com seus reconhecimentos eternamente protelados. A inoperância esperta da política ambiental e dos órgãos do governo estadual. A região do cacau eternamente enganada com promessas jamais cumpridas.
Todos os “grandes projetos” pensados para a Bahia, rodoviários, portuários, ferroviários e aeroportuários, visam criar infra-estrutura para o grande capital aumentando a exploração dos trabalhadores e pouco se importando com as conseqüências para as condições de vida do povo e o meio ambiente. O mesmo em relação aos projetos energéticos.
O desrespeito efetivo à nossa cultura e nosso povo se expressou na recepção ao presidente de Cuba, Raul Castro, quando, no dia da visita, o governador do PT mandou fazer um “faxina étnica” no Pelourinho, afastando os ambulantes, trançadeiras, mendigos e prostitutas. Se utilizando de forte aparato policial. Tudo para varrer e lavar as ruas e esconder a pobreza do visitante.
O femicídio campeia na Bahia. Só em 2008, foram cerca de 3 mil ocorrências de ameaças de morte, lesões corporais, espancamentos e estupros. E o Governo Wagner não tem política nem de prevenção nem de construção e fortalecimento da rede de atendimento às mulheres em situação de violência. E o que existe está despreparado e desaparelhado.
E nem o fisiologismo, o empreguismo, o clientelismo, o tráfico de influência e a corrupção acabaram. Basta ver as seguidas denúncias de envolvimento de membros do governo, de petistas, aliados e empresas contratadas e prestadoras de serviço de governos petistas e financiadoras do PT em diversos escândalos. Chega de vender a Bahia.
Nem mesmo o autoritarismo governamental desapareceu. Repressão a greves até com pedidos de prisão para sindicalistas. Uso da PM para inibir e reprimir movimentos de protesto e atacar acampamentos de sem teto e sem terra. Uso da inteligência policial para ameaçar e controlar opositores de ocasião, pressão da máquina do governo para arrebanhar prefeitos e vereadores do interior (a maioria com péssima ficha política e até criminal) garroteamento do legislativo, são alguns exemplos do suposto novo estilo democrático de governo.
A assembléia legislativa é totalmente submissa às iniciativas do executivo, onde não há uma verdadeira oposição. Os deputados do Demo e seus aliados, se dedicam a futricas e brigas secundárias. Mas na hora dos privilégios para eles próprios, os deputados de todos os partidos (do PT ao Demo) se unem e aprovam por consenso.
Além disso, tem também o lixão das alianças. Depois do casamento com ex-carlistas como Geddel, João Durval, João Henrique e Imbassahy e com os tucanos, agora é a vez do aliciamento e verdadeira paparicagem a carlistas de sangue ainda mais puro, como João Leão e os ex-governadores mais bajuladores de ACM: Otto Alencar e Cesar Borges – que só não serão candidatos a senador na chapa de Wagner-PT se não quiserem. Enfim, o estado virou um grande balcão de negócios para atender interesses de grandes empresas e cargos para carlistas.
Enquanto isto, vários movimentos sociais são manipulados e cooptados para ficarem bem comportados, atendendo a vontade dos governantes e interesses dos grandes capitalistas. Para silenciarem diante da polícia racista, da degradação do meio ambiente, da exploração dos patrões e do arrocho dos servidores.

A mesmice das outras candidaturas

Na Bahia, a derrota de Paulo Souto nas eleições de 2006 e a morte de ACM implicaram na reorganização das forças da direita do estado. Há uma reconfiguração dos maiores blocos políticos do estado. Ao contrário do período de dominação carlista, agora as classes dominantes tem mais de uma opção, e estão representadas em três candidaturas perfeitamente compatíveis com seus interesses e visão de mundo.
Assim, as candidaturas dos três grupos dominantes da política baiana (PT, Demo e PMDB) em muito se parecem. O velho carlismo tentando se mostrar moderno, jovem e democrático, mas que não consegue disfarçar seu DNA. Falsa polarização entre Demo x PT x PMDB. Todos fazem parte de um mesmo projeto político de continuidade do receituário neoliberal na Bahia. Não existem diferenças essenciais de projeto, só a disputa entre grupos de interesse e pela melhor capacidade de gerenciar os interesse do capital. Por outro lado, o anúncio de uma eventual candidatura do PV (que ainda não se confirmou de fato), também não consegue ser uma alternativa efetivamente diversa de tudo isto. O PV ainda continua participando do governo Wagner em cargos de primeiro escalão e participou diretamente de toda sua política anti-ambiental. Está no ministério de Lula e foi o último partido a desembarcar do desastroso primeiro mandato do prefeito João Henrique. Além disso, um dos nomes que poderia assumir a candidatura deste partido é claramente conservador em todos os sentidos.
Assim também é o que vemos, como regra geral, na bancada de deputados federais e senadores baianos (ACM Junior-Demo, Cesar Borges-PR e João Durval-PDT) – todos de origem carlista, sendo que os dois últimos são agora aliados do PT. Os deputados federais de sustentação do governo Lula da Silva (do PT, PCdoB e PSB e do velho carlismo do PMDB, PR, PTB e PP), sempre num eterno balançar de cabeças, submissos, sem independência política e sem iniciativas importantes. Por outro lado, os do bloco Demo-PSDB, não tem divergências de fundo e, por isso mesmo, não podem fazer uma oposição de verdade.
Portanto, ao contrário do que tem afirmado o governador Wagner-PT, o carlismo não acabou na Bahia, com a morte de ACM. Continua vivo nos seus herdeiros familiares e políticos. Herdeiros estes que estão no Demo e seu grupo encabeçado por Paulo Souto e ACM Neto, mas também dentro do PMDB e do grupo de Geddel Vieira Lima. E também dentro do próprio governo Wagner. Seja nos seus aliados, seja nos métodos e políticas retrógradas, a serviço do grande capital e da sustentação dos velhos chefes políticos em todo o estado, que passaram a ser aplicados pelo PT na Bahia.

Construir uma alternativa de esquerda na Bahia da Resistência

Com o combate às políticas neoliberais, a exemplo das privatizações e o sucateamento dos serviços públicos de educação saúde e segurança, e as catastróficas agressões ao meio ambiente; com a crítica de posturas políticas arcaicas que continuam se reproduzindo; com o repúdio à violência nos centros urbanos e aos crescentes escândalos de corrupção; com uma postura de maior crítica às atitudes racistas, machistas, homofóbicas, sexistas; o povo baiano continua reagindo, embora de forma fragmentada, a toda essas situações.
Por isto, continua havendo um espaço a ser ocupado pela esquerda. Um novo projeto de esquerda, contra a velha política. É assim que a militância do PSOL se levanta. Resgata a energia dos heróis coletivos de nossa história de 510 Anos de Resistência Indígena, Negra, Feminista e Popular. Se mobiliza nos movimentos sociais. E, no II Congresso Estadual do partido, em 2009, decidiu apresentar uma alternativa da Esquerda de Verdade nas eleições de 2010.
Assim, o PSOL assumiu a responsabilidade de apresentar candidaturas para construir a frente de esquerda, retomando e atualizando as experiências de 2006 e 2008, assim como a trajetória de luta e os ideais libertários do povo da Bahia, através da afirmação de um programa ousado de transformações para o Brasil e em especial para a Bahia.
Assumimos esta pré-candidatura, num estado em que a grande maioria do povo é negro, afrodescente e indigenadescendente, é, para mim, uma grande responsabilidade, um grande desafio e uma grande honra. Não cabe neste momento e nesta carta, que já ficou bem maior do que eu imaginava, a apresentação de um programa detalhado. No processo de preparação de nossa conferência estaremos discutindo as diretrizes do programa de governo que apresentaremos de modo mais detalhado.
Nossa campanha estadual estará vinculada à nacional. Estaremos ombro a ombro com a candidatura presidencial que o PSOL aprovar em nossa Conferência Nacional, lutando contra a falsa polarização continuísta entre a candidatura do PT e a do PSDB-Demo, assim como não diferenciação que a candidatura do PV tem demonstrado.
Na Bahia este programa tem que, inverter as prioridades do estado, desprivatizando suas ações hoje prioritariamente voltada para os grandes grupos capitalistas. Temos um lado, e nosso lado é o do povo trabalhador. Chega de vender a Bahia! Tem que promover a descentralização da economia do Estado e apostar no desenvolvimento regional, que combata a criminalização das populações pobres e negras. Tem que apontar a necessidade de profundas transformações nacionais e internacionais. Neste sentido propomos um Programa Democrático e Popular, construído e defendido por amplas parcelas da população, amparado por um Orçamento Participativo Deliberativo, aprovado por um Congresso dos Povos de Todas as Regiões e a utilização de mecanismos como plebiscitos e referendos que tornem as realidades regionais passíveis de um entendimento jamais experimentado pelos setores populares.
É com estas idéias, este ânimo e esta experiência que, com a humildade e a dignidade de um lutador persistente, coloquei meu nome à disposição da militância do nosso partido, para ser candidato a governador da Bahia. Vamos continuando o debate e fazer uma conferência democrática, que faça valer que o for melhor para nossa construção e a luta do povo da Bahia.
Como disseram nossos irmãos revoltosos de 1798: animai-vos povo baiano, porque vai chegar o tempo de nossa liberdade e igualdade.

Bahia, 22 de fevereiro de 2010

Hamilton Assis