domingo, 11 de maio de 2008

Circulo Palmarino protesta contra declarações racistas

O Circulo Palmarino, Corrente Nacional do movimento Negro brasileiro vem a público protestar vigorosamente contra as declarações absurdas do professor Antonio Dantas, coordenador do curso de medicina da UFBA (Universidade Federal) tenta contra o nosso povo e nossa cultura.

Em entrevista à Sucursal de Brasília do Jornal Folha de São Paulo o Coordenador de curso imputou o fraco desempenho da Faculdade de Medicina no ENADE (Exame de Desempenho dos Estudantes) ao "baixo QI (quociente de inteligência) dos baianos". O fato mais extraordinário é que além de discriminar o povo baiano creditou tudo a nossa herança cultural, quando na mesma entrevista afirmou que o suposto baixo QI dos baianos ser hereditário e facilmente "verificado por quem convive com os baianos". O seu preconceito adquire contornos racistas quando na mesma nota diz que o "baiano toca berimbau porque só tem apenas uma corda", com a intenção de relacionar o fato a nossa herança afro-descendente.

É lamentável que em pleno século 21 ainda continuemos a ouvir e a ler estes discursos de contornos eminentemente racistas e, não por coincidência oriundo do campo da medicina. Na história da Bahia e particularmente na imprensa baiana entre o fim do século 19 e inicio do século 20, este tipo de discurso era recorrente para justificar o baixo índice de desenvolvimento econômico e social do Brasil frente às potencias européias, e revelou uma nítida tentativa de responsabilizar o povo negro por este suposto descaminho. É impressionante como o pensamento do professor comunga com um outro médico radicado na Bahia, Nina Rodrigues e com Silvio Romero e Oliveira Viana e outros "sábios" que chegaram a conclusão que o baiano precisava "evoluir" até ser considerado civilizado. Segundo Silvio Romero em uma nota publicada pelo Diário de Noticias de 1910, afirmou que "a raça ariana ao se reunir no Brasil com negros e com índios, proporcionou a formação de uma sub-raça mestiça e crioula, distincta da Europa" (Diário de Noticias, 16/12/1910 p.07).

Este tipo de declaração, nitidamente preconceituosa e racista, não pode ficar incólume. É estarrecedor que este tipo de mentalidade continue tendo espaço em nossa sociedade e na comunidade acadêmica.

Queremos não só registrar o nosso protesto, mas concordar com todos aqueles que acreditam que uma pessoa que tem a desfaçatez de expor declarações racistas como estas não tem condições de ocupar um cargo de direção e nem mesmo ser professor, ou seja, responsável pela educação de nossa juventude, especialmente sendo ele coordenador do curso de medicina, considerado o mais antigo do Brasil, fundado há 200 anos.

Circulo Palmarino

Salvador, Bahia, 1º de Maio de 2008.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito boa esta nota. Mas eu gostaria de ter mais informações sobre este Círculo Palmarino e saber como fazer contato.