segunda-feira, 6 de abril de 2009

Os jovens saudáveis continuam morrendo

Por Danilo Silva

Foi assim que leu a noticia de um jornal um senhor que estava sentado à frente de sua casa em um famoso bairro de salvador.
Pensou que era um contra-senso um jovem de tão boa aparência morrer
Perguntou a mulher se alguém poderia vir a morte gozando de tal saúde e ela tristemente respondeu que sim, que poderia sim morrer saudável.
E ele refletiu mais uma vez...
Quantos meninos que eu vi crescer morreram saudáveis?
Quantos?
Eu os vi indo a escola, jogando bola, virando homem, homem, alguns nem a isso chegam
Morrem jovens...
Eu vi quando aquele garoto começou a morrer, ele comentou com a mulher.
Ele ficava fascinado com as roupas de grife estrangeira que via na televisão.
Um dia ele confessou o seu sonho: “estudar e se formar para comprar o que ele quisesse”.
Mas não foi assim, ele teve que largar a escola, começar a trabalhar.
O pai ficou desempregado, tinha mais três irmãos, era dever seu ajudar a família, primogênito, estava fadado ao mesmo destino de seu pai, homem bom, honesto porém muito pobre.
Não aceitava aquele destino, queria mais, procurou trabalhar.
Foi à feira, recebia bem como feirante, mas ainda não era suficiente para comprar a tal camisa de 100 reais. Percebeu que na feira nunca ia conseguir o dinheiro, nunca dava.
Era o que ele dizia aos amigos que usavam essas marcas.
Até que um dia veio a proposta: ficar na boca vendendo, 500 reais por semana, ele era bom de conta, os outros sabiam disso, precisavam de alguém daquele jeito para cuidar das finanças do tráfico na região.
Muito inteligente, ele logo subiu de cargo, virou um tipo de gerente geral, um chefe, ganhou respeito entre os outros meninos.
Rapaz sempre bom com os moradores da comunidade, nunca agrediu ninguém, nem maltratou.
Ele só queria o dinheiro para comprar a camisa...
Começou a morrer aos poucos, teve que matar um rapaz, pois esse queria lhe matar.
Teve que matar outro por cobrança, a lei nesses locais é sempre cruel, desumana, a sentença é sempre a morte.
Sabia que matando assim, sua hora não tardaria.
E isso o fez mudar, mudar o jeito de andar, deixar de andar, de sorrir, de amar.
Quem olhava para ele via um anuncio de morte, diziam que ele não passaria o próximo natal com a família.
Falavam tantas coisas dele...
No dia do acontecido, eu me lembro bem, o algoz passou por mim já puxando a arma.
Ele viu, tentou correr, não conseguiu.
Foi almejado junto ao coração.
Coração que naquela hora batia pela mãe que recebeu a noticia amparada pelo pai que repetia a todo momento “eu já esperava, quando se entra nessa vida não há outra saída”.
E pelo filho que deixava nos braços da mãe que, agora, chora ajoelhada perto do corpo estirado no chão.
Esse mundo ta perdido, os jovens pensam que a felicidade é um produto que pode ser comprado e se esquecem que os momentos mais felizes são aqueles que a única riqueza que carregam são a simplicidade dos sentimentos verdadeiros.
Como podemos aceitar isso, ele queria estudar, quantos estudariam se tivessem chances.
O nosso governo não mata só com a polícia, mais também com todos os órgãos, todos matam um pouco, a educação que é negada, a saúde dificultada, o emprego que não existe.
A policia só vem para confirmar uma tese que pelo próprio estado foi criado: jovem negro é para matar, não importa o que ele é, ou o que levou ele a cometer tais atos, a ordem é matar.
Ao terminar a sua reflexão chegou a notícia: mais um jovem saudável morreu.

Do blog: http://www.umgarotodeletras.blogspot.com/

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