terça-feira, 3 de março de 2009

Desigualdade racial e de classe marca o carnaval de Salvador

Por Danilo Silva

Embora a nossa festa pareça ser democrática, como de fato é nos marcos de uma democracia burguesa, ela demonstra toda a desigualdade existente.

Percebemos que as contradições aparecem radicalmente expostas tendo como fatorprincipal uma simples corda: ela divide as classes sociais e desmascara toda uma realidade que a nossa imprensa tenta a todo tempo esconder.
A corda revela o nosso complexo sistema político, que assim como ela, sempre foi levado nas costas por aqueles que menos tem e, por uma triste ironia, aqueles que a carregam também são mau remunerados.
O carnaval é uma festa da burguesia, feita simplesmente para atender os desejos dessa classe. O povo, do seu lado, tenta fazer desta festa algo que também seja seu, leva para as ruas sua riqueza, sua cultura e faz desta ocasião mais um palco, um megafone que faça os governantes ouvirem seus clamores.
Temos também a ação “eficaz” do estado, que tenta a todo custo manter estagnada essa divisão racial e de classe: a falta de investimentos nos blocos afros e independentes; o abandono quase total do carnaval de bairro; o aumento no número de camarotes e por isso também o espaço cada vez menor para aqueles que não podem pagar para sair em um bloco, etc.
Todos esses argumentos nos levam a pensar na nossa sociedade, nos lugares dos grandes camarotes, os grandes projetos imobiliários que trazem tudo que podem oferecer já dentro do seu complexo, ou seja, separa a sociedade por muros, divide em quem pode pagar por uma segurança boa e bem equipada e por quem vive a mercê da ação racista do estado, que nesse carnaval só revistava os negros.

Pensar que só uma parte da sociedade é capaz de cometer atos violentos é um pensamento que vira prática nos dias de carnaval, não há respeito para aqueles que trabalham, as condições dadas pelo estado são mínimas, ou quase inexistentes.Vê-se ai a preferência dos governantes pelos camarotes, que tiveram toda a infra-estrutura para trabalhar.
A igualdade tantas vezes aclamada como marca forte da nossa festa, nunca será alcançada de fato se não existir igualdade de condições para todos independente de estarem vestidos com os trajes de um bloco ou não, independente da cor ou da classe.
O carnaval deve ser, assim como a sociedade que queremos, um lugar justo, aonde todos tenham direitos iguais de fato e são só de direito.

Nenhum comentário: