sexta-feira, 4 de julho de 2008

O Planejamento em Salvador, por Jorge Almeida

O Grupo A Tarde tomou a importante iniciativa de realizar reuniões entre seus jornalistas da Editoria de Política e pessoas consideradas estudiosas e/ou experientes em temas relacionados à política. O objetivo é instrumentalizar melhor seus profissionais para a cobertura das eleições de 2008. A convite, participei de uma destas proveitosas discussões juntamente com o professor Albino Rubim, o publicitário Eduardo Safira e cerca de trinta profissionais de A Tarde. O tema era o marketing político, mas a conversa, de cerca de duas horas e meia, acabou versando sobre outras questões, como a cobertura jornalística das eleições. Fomos, então, chamados a fazer uma avaliação crítica de como a imprensa estava tratando a questão.
Coloquei minha opinião de leitor que sente falta de uma abordagem crítica dos problemas da cidade: que mostre soluções de longo prazo seja para a já tradicional “capital do desemprego”, da desordenada ocupação urbana e tantos outros problemas resultantes da profunda desigualdade social, seja para o mais recente aumento da violência e dos engarrafamentos do trânsito.
E, enquanto isto, sobram no noticiário as intrigas e manobras de bastidores entre candidatos e outros factóides da “pequena política”. Independentemente de uma visão crítica das coberturas da mídia comercial em geral, é preciso reconhecer, entretanto, que, neste caso, se a imprensa baiana tem ocupado boa parte do seu espaço nestes assuntos, é porque os principais candidatos e partidos só têm produzido isto mesmo. A ausência de propostas programáticas consistentes por parte destes grupos políticos é quase completa.
Um tema que os candidatos deveriam estar colocando prioritariamente em debate deveria ser o do planejamento, visando a superação de uma eterna “operação tapa-buracos”, em todas as áreas da administração.
Se bem que, independentemente das promessas para o futuro, a desconfiança pode continuar, porque todos os maiores partidos e coligações já governaram a cidade. Imbassahy e ACM Neto governaram, juntos, por oito anos seguidos. PMDB, PT, PSB e PCdoB, também já somam 8 anos, encabeçados por Lídice da Mata e João Henrique. Sem falar o tempo que parte destas forças esteve nas administrações do PMDB de 85 a 92. E o caos urbano continua aí, herdado e perpetuado pelos herdeiros.
Pode-se argumentar que o PT nunca esteve encabeçando a prefeitura, e é verdade. Mas a experiência em curso no governo estadual não autoriza muitas esperanças. Na hora de negociar o apoio do PP e PR ao governador e um de seus candidatos, o único cargo que esteve completamente disponível foi exatamente a Secretaria de Planejamento, oferecida ao PP, partido herdeiro do PDS. E tamanha é a importância real da mesma que este partido simplesmente preferiu ficar fora do primeiro escalão do governo do que pegar esta “sobra”.

Jorge Almeida é professor do Departamento de Ciência Política da UFBA e doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas.

Artigo publicado no jornal A Tarde em 30 de junho de 2008

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