quarta-feira, 28 de maio de 2008

SALÁRIO MÍNIMO FORA DA LEI E LONGE DA REALIDADE

Afrânio Boppré
Economista e membro da Executiva Nacional do PSOL

O Dieese anunciou que o salário mínimo deveria ser de R$ 1.918,12 (mil novecentos e dezoito reais e doze centavos) no mês de abril de 2008. Este valor calculado pelo Departamento é para atender o que está previsto na Constituição da República Federativa do Brasil, em seu artigo 7º, inciso IV que diz: "salário mínimo fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família, como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, reajustado periodicamente, de modo a preservar o poder aquisitivo, vedada sua vinculação para qualquer fim". Sendo assim, é fácil concluir que o salário mínimo de R$ 415,00 está fora da lei, pois não atende o que garante a Constituição e está muito longe da realidade, pois a sobrevivência de uma família está comprometida com o valor anunciado pelo governo Lula.

Os dados históricos convertidos a preços de março de 2008 apontam que em janeiro de 1959 o salário mínimo chegou a R$ 1.451,99, ou seja, 44% maior do que o valor da data de sua criação, (julho de 1940 que também a preços de março de 2008 era R$ 1.007,76). A média do primeiro trimestre de 2008 acusa um valor para o salário mínimo na ordem de R$ 392,25 representando uma redução para somente 41,18% do valor da data da criação. Esses dados do Dieese desmascaram o argumento de que a economia brasileira não comporta aumentos maiores aos praticados pelo conchavo das centrais sindicais com o governo Lula (reposição da inflação mais aumento com base na variação do PIB). Na prática, a economia brasileira já pagou salário mínimo muitas vezes superior aos praticados.

Lula se acovardou para reverter a histórica curva de distanciamento entre Salário Mínimo e Produto Interno Bruto da economia brasileira. Na prática a lógica do governo é de piso previdenciário esquecendo-se de reverter a concentração de renda e usar o salário mínimo enquanto política econômica e social. Ao fazer a crítica, não esperávamos e nem defendemos uma aplicação imediata e simplista. É lógico que um aumento abrupto provocaria uma bolha de consumo e conseqüentemente uma desregulação no mercado de bens de consumo de massa. No entanto, devemos acelerar a recuperação do patamar do salário mínimo em direção ao apontado pelo Dieese com aplicação de reajustes semestrais de 5% para além da correção inflacionária e mais a variação do PIB, por exemplo. Mas isso não acontece em função da política econômica neoliberal e comprometida com as orientações internacionais do capital financeiro a que está submetido o governo da aliança conservadora lulo-petista.

O Dieese considerou em cada mês o maior valor da ração essencial das localidades pesquisadas. A família é estimada em sua composição com dois adultos e duas crianças, sendo que estas consomem o equivalente a um adulto. Ponderando-se o gasto familiar, chegamos ao salário mínimo necessário de R$ 1.918,12.

Um comentário:

Asfalto Vermelho disse...

Nesse mundo de precarização do trabalho, R$ 1900 de mínimo parece luxo, mas, como conta na matéria, seria minimamente estar dentro das regras criadas pela própria democracia burguesa... Bom vocês divulgarem isso no blog. Tomara que os dirigentes sindicais desse país possam entender que o que o trablhador ganha, mesmo qdo chega aos 1.500 reais está muito longe do que a própria lei da elite exige. Saudações de luta!!