sexta-feira, 28 de março de 2008

Acordo com Estado não sai e policiais declaram greve

28/03
Fernando Amorim / Agência A Tarde
Daltro: "Greve é uma realidade, só falta oficializar"
Samuel Lima, do A Tarde
Enquanto os sindicalistas, inclusive com a confecção de cartazes, anunciam como “irreversível” a greve de agentes, escrivães, além de peritos técnicos e criminais, da Polícia Civil, o governo, por meio da Secretaria de Administração (Saeb), continua insistindo que não há motivos para a paralisação, inclusive discordando dos reajustes salariais alegados por lideranças da categoria.
No interior do Estado, alguns cartazes já estão fixados nas paredes das delegacias. Segundo Crispiniano Daltro, diretor do Sindicato dos Policiais Civis do Estado (Sindpoc), a greve da categoria “é uma realidade, só falta oficializar” – o que deve ocorrer, como disse Daltro, em assembléia marcada para esta sexta-feira, 28, às 10 horas, na sede da Associação dos Funcionários Públicos da Bahia (Rua Carlos Gomes, 95, Centro).
“O governo fala que houve aumento linear de 4,46% em nossa remuneração, o que não ocorreu. Fizemos nossos cálculos e concluímos que o reajuste é de irrisórios 1,15%”, alegou Daltro. “Isso está equivocado. O reajuste que todo servidor público vai ter é de 4,46%. Em alguns casos, o ganho total chega a 25% (acumulado em reajustes nos últimos dois anos), que é o que importa”, respondeu Manoel Vitório, secretário da administração.
Para justificar seus cálculos, Daltro apresentou os valores de remuneração de um agente de Classe I – R$ 380 de salário-base e R$ 1.159,45 de gratificação de atividade policial (GAP), totalizando R$ 1.539,45. “O governo apenas transferiu R$ 20 da GAP para o salário-base, que passou a R$ 400. É sobre ele que houve o reajuste de 4,46%, passando a R$ 417,84. A GAP passou a ser de R$ 1.139,45, então a remuneração total chega a R$ 1.557,29. Ou seja, reajuste de 1,15%”, concluiu.
Os cálculos sobre a remuneração do mesmo cargo, de acordo com informações da Saeb, apontam outros valores. No entendimento da Saeb, com o anunciado reajuste, o agente Classe I passaria a receber R$ 421,06 de salário-base e R$ 1.662,61 de remuneração total. Dados da pasta indicam que o ganho total, acumulado após reajustes nos últimos dois anos, para tais agentes – o equivalente a 52% do efetivo de 6 mil indivíduos da Polícia Civil – é de 20,77% (26,44% sobre o salário-base).
DELEGADOS – Crispiniano Daltro disse que a remuneração dos agentes e outros implicados no movimento grevista deveria sofrer o mesmo reajuste de 37%, que, segundo ele, foi concedido aos delegados. “Não condenamos o fato de os delegados receberem mais, porém essa diferenciação quebra o elo, causa revolta e desestímulo nos demais membros da categoria. O governo acredita que pode resistir à paralisação”, argumentou.
“Temos consciência de que os servidores com nível superior estão com salário mais defasado. Em 2007, priorizamos os servidores de nível médio, dando um maior reajuste. Em dois anos, eles terão acumulado 21% de reajuste, valor bem acima da inflação do período. Isso mostra a política de valorização do servidor”, discursou Vitório.
Por outro lado, a Saeb confirmou a diminuição de valor da GAP em contrapartida ao acréscimo no salário-base. A justificativa é a de que benefícios pessoais, a exemplo de adicional por tempo de serviço, têm seus valores calculados sobre o salário-base, enquanto a GAP possui um valor fixo. “Isso é um estelionato. Até delegados que recebem como cargo comissionado vão ter perdas de até R$ 400 na GAP”, atacou Daltro.
Os sindicalistas também centraram fogo contra a Assembléia Legislativa, por conta da eminente aprovação do projeto de lei 17.111, que prevê os citados reajustes aos servidores públicos. “O projeto será votado até o próximo dia 2. Já estamos preparando cartazes, com as fotos dos deputados traidores, que votarem a favor, dentro de um camburão, para colarmos nas delegacias”, desafiou Daltro.
SEM PROVIDÊNCIAS – Procurado insistentemente pela reportagem, o secretário de segurança pública, César Nunes, não foi encontrado para comentar o assunto. Após várias ligações, sua assessoria não deu retorno. Participando de um encontro nacional de delegados em Recife (PE), Joselito Bispo, delegado-chefe da Polícia Civil, não falou sobre possíveis providências diante da greve. “Posso dizer, com certeza, que não houve tal reajuste aos delegados como dizem os grevistas, mas, sim, de 20%”, respondeu, por telefone.

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